Rudeiras: desvendando plantas bioindicadoras
- Terra Viva
- 11 de jul.
- 3 min de leitura

As plantas ruderais usualmente são destratadas como plantas daninhas mas, podem surpreender por serem aromáticas, alimentícias e fitoterápicas. Além disso, servem como plantas bioindicadoras, atuando como verdadeiros detetives do mundo vegetal. Elas crescem abundantemente em ambientes perturbados pela ação humana, no entanto desempenham papéis cruciais tanto na natureza quanto no cultivo de hortas e jardins. Neste artigo, vamos explorar o que são essas plantas e como aproveitar seus benefícios.
Primeiramente, é importante pontuar que bioindicador é o termo que usamos para referir a organismos que nos ajudam a avaliar a qualidade do meio ambiente e a perceber as consequências da intervenção humana na natureza. Eles são indicativos biológicos de uma determinada condição ambiental. Aqui estão alguns exemplos:
Algas Aquáticas:
As algas respondem rapidamente a mudanças nos níveis de nutrientes e poluentes, tornando-as excelentes bioindicadores da qualidade da água.
Insetos Aquáticos:
Esses pequenos habitantes dos rios e lagos são sensíveis a alterações na água. Sua presença ou ausência pode indicar a saúde do ecossistema aquático.
Líquens:
Os líquens, associações simbióticas entre algas e fungos, são ótimos indicadores da qualidade do ar e da presença de poluentes atmosféricos.
Aves:
Observar a diversidade e o comportamento das aves em uma área pode fornecer informações sobre a integridade ecológica e a disponibilidade de recursos.
Quando olhamos para a flora encontramos as rudeiras, plantas bioindicadoras que nos permitem inferir aspectos como pH, fertilidade, umidade, presença ou ausência de nutrientes. São plantas resilientes que prosperam em locais perturbados, como beiras de estradas, terrenos baldios e áreas urbanas abandonadas.
Elas desempenham um papel vital na recuperação de solos degradados, preparando o terreno para outras plantas, criando condições favoráveis para o estabelecimento de vegetação mais diversificada, sendo então necessárias para a sucessão ecológica e manutenção da biodiversidade. São verdadeiras sobreviventes, encontrando espaço onde outras plantas podem não sobreviver.
Aqui estão alguns exemplos mais comuns dessas plantas notáveis:

Azedinha (Oxalis spp.):
Encontrada em áreas urbanas e terrenos baldios.
Sinaliza solos ácidos e pode indicar deficiências nutricionais.
Suas folhas têm sabor ácido e podem ser usadas em saladas. É rica em ácido oxálico, portanto, deve ser consumida com moderação. Você pode prepará-la crua em saladas, refogada ou cozida.

Barba de Falcão (crepis japonica):
Cresce em locais mais úmidos, comumente vista próxima a muros e blocos de pedra. Indica solos mais úmidos, pouco mais férteis e com pouca perturbação. Comestível, com sabor que lembra alface ou almeirão.

Beldroega (Talinum paniculatum):
Cresce em solos perturbados e compactados. Indica solos pobres em nutrientes. Além de proteger o solo, suas folhas são comestíveis. É rica em ômega 3, betacaroteno e vitamina C.

Caruru (Amaranthus deflexus):
Aparece em áreas onde o solo foi perturbado, como canteiros recentemente preparados ou áreas onde houve movimentação de terra.
Indica presença de nitrogênio livre em excesso. As folhas do caruru são comestíveis e possuem um sabor semelhante ao espinafre.

Carrapicho ou Picão-preto (Bidens pilosa):
Cresce em solos perturbados, áreas recém cultivadas ou áreas degradadas.
Indica solos compactados, pobre em nutrientes. Além de bioindicador, também é considerado uma PANC (Planta Alimentícia Não Convencional). Suas folhas jovens podem ser consumidas cruas em saladas ou cozidas.

Serralha Chicória-brava (Sonchus oleraceus):
Aparece em áreas onde o solo foi perturbado, como canteiros recentemente preparados ou áreas onde houve movimentação de terra.
Indica que o solo está fértil e bem drenado. Suas folhas podem ser consumidas cruas em saladas ou cozidas em refogados, sopas e outras receitas.

Trevo (Trifolium subterraneum):
Tende a crescer em solos mais férteis, ricos em nutrientes.
Indica níveis adequados de umidade no solo, mas algumas espécies de trevo são mais adaptadas a solos ácidos ou alcalinos, o que também pode indicar o pH do solo. Suas folhas são comestíveis e apresentam um sabor azedo característico, semelhante ao limão.
Agora aproveite para investigar seu jardim, apurar o olhar e descobrir quais informações ele te revela. Dicas:
Observação: Esteja atento às plantas que surgem naturalmente em seu jardim. Elas podem indicar problemas específicos no solo.
Conservação: Proteja as rudeiras e plantas bioindicadoras. Elas contribuem para a biodiversidade e a saúde do solo.
Compostagem: Use as partes não comestíveis dessas plantas na compostagem. Elas enriquecerão o solo.
Integração: Plante-as estrategicamente para melhorar a saúde geral do jardim.
As rudeiras são verdadeiros tesouros da natureza. Ao compreender seus papéis e aprender a identificá-las, podemos cultivar jardins mais saudáveis e sustentáveis. Pratique a observação e aproveite os benefícios dessas plantas resilientes em seu próprio espaço verde! 🌱🌿
Fontes:
"Plantas Daninhas: Bioindicadoras e Rudeiras" - Embrapa.
"Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil" - Instituto Plantarum.
“Trifolium repens" - USDA Plants Database.
"The Four-Leaf Clover: A Rare Variation" - University of Vermont.
Matos de Comer. As plantas bioindicadoras. Não é tudo mato! Disponível em: http://www.matosdecomer.com.br/2015/08/as-plantas-bioindicadoras-nao-e-tudo.html.





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